Olá pessoal,
Para finalizar o mês das histórias especiais sobre os empresários pioneiros, conto lhes a história de Jacob Barata e seu grupo.
Definição?
Jacob Barata no começo com seus primeiros passos no transporte |
As opiniões dos amigos variam. Um diz que ele tem a ambição de construir, mas não de reter em suas mãos aquilo que constrói. Outro, que se trata de um comerciante nato, cujo maior deleite é vender. E outro, ainda, que tem o dom de saber escolher aqueles que vão ajudá-lo a transformar um negócio difícil em empreendimento de sucesso
É sempre assim. Ninguém consegue falar de Jacob Barata sem acrescentar qualificativos variados, que confluem para o perfil de um empresário de sucesso, com lugar garantido na restrita galeria dos pioneiros que sonharam e transformaram em realidade o sonho de construir um grande sistema de transporte de passageiros para o Brasil. É provável que uma única pessoa não goste de falar sobre Jacob Barata e sobre seu papel na construção desse sistema: ele próprio. Por isso, nesta tentativa de lhe traçar o perfil, não aparece nenhum depoimento pessoal seu. Como diz Dona Glória, "se houver possibilidade de não aparecer, ele prefere".
A razão não é outra que o seu temperamento, seu jeito de ser. Simples, retraído, inibido no trato pessoal, até mesmo tímido: são essas as características que casam com o seu tipo de personalidade. Nos negócios, porém, é extremamente arrojado e dono de enorme visão comercial. Com essas qualidades e muito trabalho, Jacob Barata construiu, em pouco mais de 50 anos, um império que hoje dá emprego direto a mais de 22.000 pessoas em vários estados. De seus negócios, atualmente, dependem cerca de 100.000 pessoas. Mais do que um estádio do Maracanã lotado, em dia de jogo da Seleção Brasileira.
Tudo começou em um "lotação"
A origem de tudo foi um lotação de 12 lugares com que, em meados da década de 50, ele fazia a linha Madureira-Irajá, na cidade do Rio de Janeiro. Na estrutura do transporte de passageiros da cidade havia lugar para a figura do transportador autônomo -o chamado lotação. Mesmo assim, uma infinidade de bairros não dispunha de transporte coletivo para o centro da então capital do país. Jacob Barata foi pioneiro na ligação da Zona Oeste com o centro da cidade. Porém, as permissões para operar serviços de lotação foram extintos e ele teve de agregar seu único veículo à frota de uma empresa de ônibus do bairro de Rocha Miranda, um arranjo comum na época. Em seguida, adquiriu mais dois ônibus, que manteve agregados à mesma empresa. Seu pendor para os negócios começava o se delinear com mais clareza. Trabalhando dia e noite, dirigia um dos veículos e contratava motoristas para os outros dois.
Criação de empresas
Pouco tempo antes havia chegado de Belém do Pará, sua cidade natal. Na capital paraense, trabalhava em uma loja de discos. Mas seu pensamento teimava em voar para mais longe, para o Sul, para a cidade capaz de oferecer a um jovem de menos de 20 anos todos as oportunidades imagináveis. Agora, tratava de aproveitá-las.
Em 1955, juntou-se a outros dois sócios e criou a Viação Elisabete. Cada sócio era dono de dois ônibus. Dois anos depois, Jacob Barata fundou sua primeira empresa, com o nome de sua filha: Viação Rosane.
Ao longo dos anos seguintes, iriam revelar-se todo o tino comercial e a inquietude empresarial de Jacob Barata, exercitados simultaneamente no segmento de transporte urbano de passageiros e na revenda de veículos. Compraria, venderia e trocaria uma infinidade de empresas. As frotas seriam cada vez maiores e ele tornar-se-ia um dos grandes empresários de ônibus da cidade do Rio de Janeiro - condição alcançada com a aquisição da Viação Parapuanã, com mais de 100 carros e linhas que ligavam, principalmente, a Ilha do Governador ao centro da cidade. No processo de crescimento, avultariam algumas características de sua personalidade, como o gosto pelo risco, a enorme capacidade de trabalho e a habilidade para mobilizar pessoas.
Trabalho que era paixão
São dessa época algumas das lembranças mais marcantes da esposa, Dona Glória, e dos filhos Jacob, Rosane e David. Lembranças como a de um domingo de 1965 em que ele colocou a família no carro e, como de costume, saiu para dar uma volta. Desfizera-se há pouco da Viação Parapuanã e anunciara à família que, a partir daí, atuaria somente na revenda de automóveis. Dona Glória estava satisfeita, sabia que isso significaria menos trabalho e horários mais regulares para o marido. Mas naquele domingo, durante o passeio, Jacob Barata dirigiu até a garagem da Viação Glória e convidou mulher e filhos para conhecerem as instalações. Timidamente, anunciou que acabava de comprar a empresa, muito ligada ao desenvolvimento da cidade e a primeira a unir a Zona Norte à Zona Sul, com a linha Méier-Forte de Copacabana. Quem relata é a filha Rosane, hoje integrante da diretoria da holding que controla as empresas da família:
"Minha mãe começou a chorar e cobrou dele o cumprimento da promessa de não mais trabalhar com empresa de ônibus. Ele disse que não tinha conseguido resistir. A empresa levava o nome de minha mãe, talvez aquilo fosse um sinal para ele comprar e começar tudo de novo."
O dom de comprar empresas e desenvolvê-las
O episódio retrata bem o empresário Jacob Barata. Sempre que sua mulher ficava aborrecida por ele ter feito uma dívida, dizia: "Se eu não arriscar, se eu não fizer dívidas, não vou crescer." Por sua vez, Dona Glória comentava com os filhos: "Toda vez que está tudo sob controle ele precisa arranjar uma dívida. Ele não sabe ficar quieto." Hoje, Rosane revela que o pai gostava daquilo, era algo que o estimulava: "Ele pegava uma empresa desestruturada, estruturava e passava adiante. Depois, buscava outro desafio. E assim foi crescendo, crescendo..."
Esse modo de operar levou-o a investir na compra da Citran, sua primeira experiência no segmento rodoviário. Não deu muito certo, como relata Eurico Galhardi, diretor da holding e sócio de Jacob Barata em uma das empresas do grupo: "Operar o segmento urbano é bem diferente de operar o rodoviário. A cabeça dele era urbana e Jacob não se sentiu muito à vontade no novo negócio, por isso se desfez-se logo dele."
Mas não era um afastamento definitivo. Quando surgiu a oportunidade de adquirir a Normandy, fechou o negócio, disposto a aproveitar os ensinamentos deixados pela tentativa anterior. Hoje, além da Normandy, tem a Expresso Guanabara, de Fortaleza, empresa-padrão do segmento interestadual. Mais recentemente, comprou a ÚTIL, de Belo Horizonte, que se destaca pela qualidade dos serviços e pelas inovações que costuma lançar. Em todas essas aquisições, prevaleceu o seu feeling para os negócios.
Visionário
Ele vê longe, explica a filha Rosane. "Meu pai tem certas premonições que são só dele. Enxerga muito à frente do que nós conseguimos enxergar e, por isso, consegue fazer previsões que quase sempre vão acontecer lá na frente."
Além das três empresas rodoviárias, o grupo é dono de duas concessionárias Mercedes-Benz e de grande número de empresas de transporte urbano de passageiros, inclusive duas em Portugal. Também possui hotéis fora do Brasil. Recentemente, no Rio de Janeiro, ingressou no ramo hospitalar. Somadas as frotas das três rodoviárias (Normandy, Guanabara e Útil), são 550 carros. Já a frota total das empresas urbanas está na casa dos 3.500 veículos. As empresas do grupo operam nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Pará, Paraíba e Piauí.
Jacob, segundo Jacob
Jacob Barata e Jacob Barata Jr. |
Há já algumas décadas Jacob Barata pode se considerar um empresário extremamente bem-sucedido. Se quisesse, a qualquer momento poderia parar de trabalhar, mas isso não faz parte dos seus planos imediatos. E, certamente, não é por causa de dinheiro: "O dinheiro é um acidente na vida das pessoas. Elas podem ter hoje e não ter amanhã", ele costuma ensinar aos filhos. "Para ele, parar seria morrer", revela sua esposa. Diariamente, continua saindo de casa às oito da manhã e voltando às oito da noite. A jornada mínima é de nove horas de trabalho, Mas não abre mão de uma pausa para desaceleração, no fim do dia: por volta das seis ou sete da noite, encerra o expediente e reúne alguns diretores e amigos mais próximos para uma rodada de biriba, cada um nivelado aos demais, sem hierarquias, exposto às gozações recíprocas.
Os filhos são seus admiradores fanáticos, trabalham ao seu lado e estão com ele boa parte do dia. Assim mesmo, costumam reunir-se fora do escritório todas as sextas-feiras e domingos. Jacob Barata não gosta de vida social externa. Também não costuma trazer o mundo dos negócios para dentro de casa. O círculo dos que privam de sua casa -excetuados os filhos Jacob, Rosane e David, os dez netos e os três bisnetos - é reduzido e fiel. Fez grandes amigos ao longo da vida, amigos de 40, 50 anos, amigos de uma vida inteira. Esses são os de quem ele mais gosta. Seu lazer preferido é ficar com a família nos fins de semana. Uma vez por ano faz uma viagem de lazer com toda a família, que, aliás, inspirada pelo sucesso do chefe do clã, gosta muito de ônibus.
Visto como um professor
Com toda essa convivência, a filha Rosane ainda reclama contatos mais freqüentes. Diz que todo dia há sempre uma lição nova para aprender com o pai, que no ambiente de trabalho é chamado de "O Cabeça Branca" pelos mais íntimos, numa alusão à sua experiência, sabedoria e, é claro, aos cabelos totalmente embranquecidos. "Sentar ali na esquina da mesa dele é melhor do que fazer qualquer MBA. Não há é pós-graduação que se iguale. Trabalhar com ele é uma escola diária de vivência e um aprendizado de humildade”.
Por isso, ela espera que um dia ainda venham a ser sistematizadas reuniões semanais entre o pai, as filhos e os principais executivos das diversas empresas, simplesmente para ouvir Jacob Barata falar sobre suas experiências, seu modo de realizar negócios, seu jeito de administrar. "Principalmente sobre a visão que ele tem das coisas, a maneira simples de resolver o desmanchar de uma sociedade, a saída de um sócio, a naturalidade com que encara os desafios mais difíceis, a maneira como resolve tudo e comanda os demais”.
Ela está falando de um empresário com mais de 100 sócios, cada um com seu jeito de ser e de pensar, muitos dos quais começaram com ele, dirigindo lotações ou ônibus urbanos, supervisionando operações e conferindo a féria-diária. Gente que subiu com ele, graças a uma de suas qualidades como empresário: a de saber dar oportunidade aos seus colaboradores. Dona Glória, que costuma referir-se ao marido como "um moderno empresário de 71 anos", sentencia: "Ele não é uma pessoa ambiciosa no sentido de querer tudo só para ele. Ele cresceu, mas teve a preocupação e o cuidado de trazer muita gente para crescer com ele. Para mim, este é o grande mérito de Jacob como empresário".
Fonte: Os Pioneiros, Encarte especial da Revista Abrati de dezembro de 2003
2 comentários:
meu futuro patrão
Esse e um.exemplo de empresário brasileiros, diferente de muitos outros que so querem suggar e destruir. Mesmo com a perda do seu filho Daniel de forma tragica, que tbm era uma otima pesssoa e seguia o exemplo do pai, o sr Jacob nunca deixou de dar aos seus colaboradoes o devido respeito como funcionarios e seres huamnos. Nunca trabalhei em seu grupo mais acompanho suas historias de vida e relacoes interpessoais. Existe mais a acrescentar do que diminuir ou defamar. Sim quando se faz por amor e respeito a recompensa vem. E se sua familia o respeita e o ama e faz de suas palavras verdadeiras, este e um ser de sucesso real e duplo... o brasil sendo governado por empresarios como ele seria um pais de prosperidade e primeiro mundo basta visitar as empresas por ele ( jacob e associados) administrada...
Postar um comentário