Esquema do câmbio automático da ZF |
Olá meus amigos,
hoje pretendo abordar um ponto que tem levantado algumas polêmicas quanto aos ônibus urbanos: câmbio automático. À primeira vista pode parecer uma futilidade, devido ao custo inicial e ao consumo de combustível, mas tem se revelado uma boa opção para incrementar a produtividade e até mesmo diminuir o custo operacional.
Trazendo vantagens para o operador, os passageiros e o gestor de frota, o câmbio automático pode ser considerado imprescindível num ônibus urbano de concepção moderna. |
Uma das principais
diferenças entre um câmbio manual ou automatizado (como o V-Tronic)
e um automático é o acoplamento ao motor: enquanto o manual
necessita de uma embreagem, o automático normalmente conta com um
conversor de torque hidráulico, mantendo um acoplamento constante.
No entanto, para evitar uma movimentação indesejada do veículo,
que pudesse resultar em acidente, o conversor de torque só começa a
transferir força ao eixo-piloto do câmbio a partir de uma faixa de
rotação pré-selecionada, o estol (do inglês stall), que
normalmente é estabelecido considerando a rotação de marcha-lenta
como referência.
Como funciona o
conversor de torque?
Numa explicação mais
simples, o conversor de torque é até parecido com uma hélice de
barco conectada ao motor, girando dentro de uma “marmita” vedada
e preenchida com um óleo especial, o ATF (Automatic Transmission
Fluid), e o movimento transmitido ao óleo é repassado a outra
hélice, conectada ao eixo-piloto do câmbio. Hoje existem alguns
conversores de torque mais complexos, incorporando conjuntos de
engrenagens planetárias para tornar mais consistente a transmissão
da força motriz, e até gerenciamento eletrônico (ou assistência a
vácuo em modelos de concepção mais antiga) para promover um
bloqueio (lock-up) do conversor de torque, diminuindo o deslizamento
interno (slip) e consequentes perdas parasitárias, colaborando para
uma melhora nas acelerações e retomadas, bem como uma redução no
consumo de combustível. Outro lado negativo é o peso, maior que o
de um conjunto de embreagem convencional...
E as trocas de marcha?
A troca de marchas
também se dá através de pressão hidráulica, por meio de válvulas
conhecidas como solenóides, originando uma denominação pela qual
esse tipo de câmbio foi bastante conhecido: hidramático. Convém
recordar que a marca HydraMatic é propriedade da General Motors,
apesar de todos os câmbios automáticos terem seguirem esse
princípio de funcionamento. A incidência de "trancos" é menor, quase nula, tornando a viagem mais agradável e até reduzindo o risco de queda de passageiros soltos no corredor, ou de acidentes provocados pela movimentação de algum objeto transportado pelos mesmos. Alguns sistemas mais recentes tem o corpo de
válvulas controlado eletronicamente, em que a abertura dos
solenóides é otimizada de acordo com as condições de carga e
terreno, mas ainda dependem basicamente da pressão hidráulica para
operar. Em função da seleção das marchas ser feita sempre em
função das condições de uso, evita erros dos operadores e acaba
até por colaborar para um menor desgaste mecânico, sem submeter o
motor a esforços demasiados, o que também favorece a economia de
combustível.
Manutenção: mais
simples do que aparenta
Apesar da maior
complexidade técnica, os intervalos de manutenção são mais
espaçados, e alguns procedimentos são até mais simples. Ao invés
de ter que remover o câmbio para a troca do material de atrito e
rolamento da embreagem, e eventualmente do platô, num automático o
mais comum é apenas trocar o fluido ATF. Em casos extremos, quando a
quilometragem total já demanda a troca de discos de fricção e
cintas de freio internas, um câmbio manual não vai estar numa
condição muito melhor: as engrenagens de dentes cônicos sofrem
desgaste mais intenso que as de dentes retos ainda usadas em muitos
câmbios automáticos, e os sincronizadores, inexistentes num
automático mas fundamentais para não “encavalar” marchas
trocadas “fora do tempo”, também concorrem para uma menor
durabilidade dos conjuntos de engrenagens de um câmbio manual.
Operações urbanas: o
cenário ideal
As vantagens do câmbio
automático ficam mais evidentes no trânsito urbano, onde a maior
quantidade de paradas em trechos curtos e repetidas trocas de marcha
acabam impondo grande esforço sobre uma embreagem, principalmente em
áreas com topografia irregular.
A maior precisão no gerenciamento do torque leva a uma melhor capacidade de movimentação em aclive. |
Um conversor de torque mostra-se
menos sensível a condições de uso tão severas. Mesmo em
corredores/BRT, o câmbio automático apresenta vantagens, tanto em
função da maior quantidade de paradas ao longo do trajeto quanto
pelo acoplamento mais preciso entre motor e câmbio proporcionar uma
maior segurança. O maior conforto ao operador também é importante,
reduzindo significativamente a incidência de lesões que levam ao
afastamento do trabalho.
Nos ônibus articulados, o câmbio automático sempre teve mais aceitação devido à maior aptidão ao serviço pesado. Hoje, é obrigatório nos chassis novos. Fonte da imagem: DieselNutz |
Apesar dos gestores de
frota ainda terem receio, o câmbio automático é um bom
investimento para melhorar a rentabilidade no transporte urbano de
passageiros.
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