sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

João Miguel Mansur - Vocação para transportar pessoas e bens


Olá pessoal,
Hoje na terceira sexta do mês, seguimos com as histórias especiais de Janeiro que fala sobre os empresários pioneiros, vamos falar sobre João Miguel Mansur e a Empresa Unida.


Uma história de luta


O entusiasmo foi uma das principais armas com que João Miguel Mansur enfrentou anos e anos de dificuldades, perdas e conquistas, no exercício de uma irrefreável vocação para o transporte de pessoas e bens. Até que, um dia, seu negócio se consolidou definitivamente na excelente empresa de transportes que é hoje a Empresa Unida Mansur. Por isso, Mansur figura com justiça entre os pioneiros do transporte rodoviário de passageiros. Ao longo de décadas, testemunhou importantes acontecimentos da vida do país, atravessou a Segunda Guerra Mundial, acompanhou duas constituintes, sobreviveu a inúmeros planos e choques econômicos e mudanças de governo. Com tenacidade, foco no negócio, capacidade de trabalho e carisma pessoal, superou obstáculos e construiu a Empresa Unida Mansur & Filhos, com sede em Juiz de Fora MG e linhas espalhadas por uma vasta região de reconhecida forço econômica.

Incentivo do pai foi o pontapé inicial


A idéia de comprar o primeiro ônibus partiu de seu pai, Miguel José Mansur. Mas até chegar a esse momento que definiria seu futuro, João Mansur, menino ainda, fez de tudo no ramo do pequeno comércio ambulante. Aos dez anos de idade já havia sido iniciado em mecânica de automóveis pelo pai e aprendia a dirigir caminhão. Também já exercitava a habilidade em comprar e vender, negociando pães, ovos, galinhas e até novilhas. Quando, em 1934, conseguiu acumular algum dinheiro com essas atividades, veio a idéia de comprar o primeiro ônibus. Era um ônibus aberto, igual aos bondes da época, com estribo, bancos corridos e entrada individual para cada banco - um Chevrolet quatro cilindros, comprado em Juiz de Fora. Em pouco tempo o negócio se revelou rentável e o jovem empresário decidiu comprar um segundo veículo, um Chevrolet Ramona.

Foi um período de aprendizado e sobressaltos em que o adolescente João Mansur revelaria, entre outras qualidades, a flexibilidade e a rapidez de raciocínio dos bons negociantes. Por exemplo, quando apareceu um concorrente disposto a entrar no negócio e com intenção de comprar um ônibus mais novo, Mansur procurou-o e conseguiu vender-Ihe o seu próprio veículo. Com o dinheiro, foi ele quem comprou ônibus mais novo. Mas o concorrente insistiu: ia fazer a mesma linha. Mansur então propôs e ele aceitou um acordo. Ambos operariam a mesma linha, mas em dias alternados.

Pedras no caminho, mas superar era preciso



Era preciso ganhar novos mercados e passou a fazer também a linha Carandaí-Barbacena. A estrada era boa, havia passageiros e perspectiva de lucro. Mas havia também o trem, que reduziu em 50% o preço do bilhete e arrasou com a linha de ônibus. Por causa disso, Mansur perdeu um Ford 1929 na penhora. Tinha apenas 17 anos de idade, mas a carteira de motorista profissional lhe dava coragem e segurança para continuar tentando.

Com o veículo que sobrou, tentou operar a linha Friburgo-Além Paraíba. Na primeira e única viagem, o ônibus quebrou no meio do caminho. Sem dinheiro para o conserto, o rapaz mandou rebocar o veículo para Juiz de Fora. Dormiu dentro dele durante um mês. Quando finalmente arranjou recursos e fez os reparos necessários, escolheu um novo roteiro: Rio Novo- Juiz de Fora. Novamente, o principal concorrente seria o trem, mas João Mansur havia aprendido a lição. Colocou seu ônibus na Praça da Estação, que era caminho dos passageiros, e marcou a saída para 15 minutos antes do horário da partida do trem. Também fixou o preço: 30 centavos a menos que o valor do bilhete. Ele mesmo distribuiu os panfletos de propaganda, na rua principal, nas barbearias, nas sapatarias. No primeiro dia, o ônibus saiu lotado. Era o ano de 1936. Como o veículo era velho, dentro do possível ia trocando as peças. Até que estouraram dois pneus em um mesmo mês. Na iminência de parar novamente, negociou crédito em uma loja de pneus e seguiu em frente.

Três anos mais tarde, em 1939, prolongou a linha de Rio Novo até São João Nepomuceno. Estava ganhando dinheiro e comprou mais um ônibus, pagando à vista. Mais três anos e a frota já tinha cinco ônibus quando o negócio desandou e foi preciso vender algumas linhas. Felizmente, tinha crédito, coragem e determinação, e foi com essas ferramentas que conseguiu sanar rapidamente a situação financeira da empresa. Em um ano eliminou todas as dívidas e ganhou ainda mais experiência.

O negócio recebeu um impulso importante com a aquisição da linha Juiz de Fora-Barbacena, posteriormente prolongada até São João DeI Rei. Era operada com um Chevrolet Tigre 1938. A carroçaria era de madeira, com cinco bancos e porta individual para cada banco.

O aprendizado ajudando a superar as crises.


A Segunda Guerra Mundial começou (1939) e trouxe muitas dificuldades, principalmente porque havia racionamento de combustível. Graças, porém, ao bom crédito que tinha na praça, João Mansur obteve as cotas de combustível de que necessitava para continuar rodando. Data dessa época o início da política de expansão da empresa, feita, geralmente, com a compra de ônibus e linhas de concorrentes. A linha Juiz de Fora-Santos Dumont foi incorporada em 1949, permitindo a criação oficial da Empresa Unida Mansur e Filhos Ltda.

Seus sócios eram o pai, Miguel José Mansur, e o irmão mais jovem, José Miguel Mansur. 
O governo estava iniciando o processo de estruturação do setor de transporte rodoviário de passageiros. A empresa obteve a concessão da linha Juiz de Fora-Belo Horizonte e, a partir daí, acumulou uma sucessão de êxitos, pois estava sempre atenta à abertura de novas linhas e ao asfaltamento de ligações entre cidades com potencial econômico. Em algumas ocasiões, João Mansur colaborou pessoalmente na melhoria de trechos, como no caso, por exemplo, da linha Juiz de Fora-Valença (RJ). Tendo solicitado ao DNER autorização para operá-la, a Empresa Unida foi informada de que a autorização seria concedida, mas que a estrada não oferecia condições de uso. A resposta de João Mansur: "Não tem problema, eu abro a estrada". E abriu mesmo.

Abrindo os caminhos para o sucesso


Também quando a Empresa Unida adquiriu a linha Viçosa-Muriaé, a estrada era tão estreita que só podia ser operada por microônibus. Em parceria com o DER-MG, a Empresa Unida fez o alargamento, removendo toneladas de pedras. E assim, encarando os desafios, João Mansur seguiu construindo a empresa que hoje se orgulha de operar no transporte de passageiros e cargas, integrando cidades da Zona da Mata mineira e ligando-as a Belo Horizonte e ao Rio de Janeiro. Com 370 funcionários, a companhia percorre anualmente cerca de 600.000 quilômetros e transporta mais de 200.000 passageiros por mês. Atua também no turismo e no transporte de funcionários de indústrias. Em 1980, João Mansur e seu irmão José optaram pela cisão da sociedade, a fim de abrir espaço para o ingresso dos filhos já adultos.

Dias atuais


A Empresa Unida continua sob administração familiar e é reconhecido pela comunidade onde atua, por seu comprometimento com a modernidade e com o bem a estar de seus usuários e funcionários. Sua política de investimentos está calçada na constante renovação da frota. O alto padrão de informatização facilita a transposição de dados, a análise do desempenho de cada setor e a rápida tomada de decisões.

Aos 85 anos, tendo dedicado toda sua vida ao transporte, ao cultivo das amizades e à família, João Mansur continua sendo o orientador e sábio conselheiro dos sucessores.

Fonte: Revista Os Pioneiros, encarte especial da Revista Abrati

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