sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Affonso Oger - A saga de um homem de visão

Affonso Oger

Olá pessoal,

Hoje, na segunda história do mês seguindo a temática "Empresários Pioneiros" vamos contar sobre a história de Affonso Oger e mostrar um marco que foi (E ainda é) a Expresso Itamarati.


Seguindo o tradicional começo de muitas empresas da época


Ele começou a trabalhar no transporte rodoviário de passageiros em 1951, quando, com seu pai e um Irmão, comprou duas jardineiras Ford F5, ano 1948, e passou a operar uma linha pioneira ligando Novo Horizonte a São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Seu José era um hábil mecânico. Affonso e Clówis cuidavam da bagagem, cobravam passagens e estavam sempre atentos a quaisquer imprevistos.

Foi assim que nasceu a Oger & Filhos, embrião da Expresso Itamarati. "Não foi um começo fácil nem nós esperávamos que fosse. As pessoas estavam acostumadas a viajar de trem e não pareciam dispostas a experimentar o novo meio de transporte", narra Affonso Oger. Acrescente-se que aquela era uma região - o noroeste paulista - pontilhada de estradas esburacadas, com muita poeira, intransitáveis quando chovia. Affonso, porém, confiava no enorme potencial representado pelo avanço da colonização e pelo início do processo de urbanização regional. Tinha então 27 anos. Seu irmão Clówis, 24, e o pai, Seu José, 51.

Aos poucos, os passageiros foram aparecendo e o negócio da família Oger - que antes das jardineiras mantinha um comércio de compra e venda de automóveis - cresceu de importância, ajudando no desenvolvimento das pequenas comunidades e facilitando o acesso dos moradores da zona rural ao comércio regional e à assistência de saúde disponível nos centros maiores.

Para ter sucesso, acordar cedo, chegar cedo e mostrar um bom serviço


Os donos da empresa acordavam bem cedo. Era importante chegar ao ponto de ônibus antes dos passageiros que queriam viajar para londrina, no Paraná. Até então, a viagem por ônibus era feita em duas etapas, a primeira até Tupã (SP), com baldeação para o norte paranaense - na época, um destino muito procurado por conta da súbita evolução da cultura cafeeira. Por Novo Horizonte também corriam ônibus para Marília e londrina. Affonso Oger passou a oferecer essa alternativa.

O segredo era ser rápido. Mal o passageiro despontava, ia ao encontro dele, pegava suas malas e as colocava no bagageiro. E o ônibus para Novo Horizonte saía lotado de candidatos ao eldorado paranaense. Com dois anos de atividade, já era evidente a necessidade da Oger & Filhos comprar mais veículos para oferecer mais horários nas linhas. Quando o ônibus foi finalmente adquirido, já começou a operar com o nome Expresso Itamarati - em tupi-guarani a palavra significa algo como lugar da pedra branca - pintado no pára-choque dianteiro. A escolha do novo nome havia sido feita pelos fundadores durante uma reunião familiar.

O novo veículo ficou conhecido como expresso das dez e tornou-se o preferido dos passageiros por causa dos requintes de conforto que oferecia, a começar pelas poltronas macias e espaçosas.

Novas rotas, mais ônibus: Primeiros passos da Itamarati


O sucesso na operação animou os irmãos a olhar com interesse para algumas linhas que interligavam pequenas cidades entre Rio Preto e Novo Horizonte. Normalmente, eram linhas exploradas por pequenas empresas locais. A primeira a ser incorporada foi a Urupês - Rio Preto. Em seguida, Termas de Ibirá - Uchoa. Mais tarde, a linha Rio Preto-Cedral e os quatro horários entre Potirendaba e Rio Preto. A compra dos quatro ônibus da empresa Irmãos Salgado e da linha Rio Preto-Votuporanga, em 1955, foi considerada um pequeno salto e uma ligeira demonstração de ousadia, não apenas pelo volume do negócio em si, mas pela importância estratégica da decisão de operar uma nova rota, diferente daquela onde a empresa nascera.

Os ônibus da Expresso Itamarati avançaram rapidamente em direção à divisa dos estados de São Paulo e Mato Grosso (hoje, Mato Grosso do Sul). No final dos anos 50, a aquisição das linhas e dos seis ônibus da Viação Tamoyo, que fazia o trajeto Rio Preto-Olímpia-Barretos, acabaria levando a Itamarati para uma nova direção geográfica, oposta àquelas onde operava até então.


A última grande incorporação ocorreu em 1962, com a compra da Viação Aprazíve/ Paulista Ltda. Daí para frente, a expansão se deu principalmente mediante novas autorizações. Uma das mais importantes, ainda em 1962, permitiu à empresa operar o trajeto Votuporanga-São Paulo. A família Oger adquiriu um veículo novo especialmente para a linha e se reuniu numa pequena festividade para receber, no terminal de Mirassol, o primeiro ônibus vindo da capital. 
Aos poucos, a linha da Itamarati para São Paulo foi sendo "esticada" em direção a Mato Grosso, atingindo Jales, Santa Fé do Sul, Aparecida do Taboado e outras cidades. Atualmente, vai até Araputanga, Mato Grasso, cumprindo uma viagem de 2.500 quilômetros, que dura 30 horas.

Mais tarde, devidamente autorizada a atuar também no transporte urbano e suburbano de passageiros, a empresa evoluiu no segmento até responder por aproximadamente 20% da área urbana de Rio Preto. No final dos anos 90, assumiu, em concorrência pública, o serviço de transporte coletivo da vizinha cidade de Mirassol.

Do outro lado do rio

A Itamarati já teve porto e linhas de balsas

Anos antes, no início do década de 70, Affonso e Clówis Oger decidiram verificar pessoalmente em Santa Clara d'Oeste as condições para que seus ônibus cruzassem o obstáculo maior à expansão das linhas do Expresso Itamarati. Os serviços da empresa já haviam chegado ao extremo noroeste do Estado de São Paulo e um grande desafio estava por ser enfrentado: era o Rio Paraná, fronteira natural com Mato Grosso e caminho importante em direção às novas fronteiras agrícolas do Centro-Oeste. Superá-lo seria vital para consolidar a presença da empresa em uma região onde a demanda de passageiros era cada vez maior.

Da viagem, Affonso e Clówis trouxeram uma frustração e uma certeza. A frustração foi o tempo gasto entre ido e vinda -cerca de oito horas. A certeza: teriam que agir por iniciativa própria se quisessem vencer o desafio. Decidiram construir um porto e realizar a travessia em balsas próprias.

Desde que o Porto Itamarati começou a operar, em 2 de fevereiro de 1973, ficou claro que seria muito mais que um mero meio de travessia para os ônibus da empresa. Tornou-se alternativa rápida e eficiente de passagem para automóveis e caminhões que, cada dia mais, transitavam entre as regiões agrícolas dos dois estados. Prenunciando-se como novo e rentável negócio para os Oger, as balsas iam e voltavam lotadas, deixando às moscas o Porto Taboado.

Em abril de 1976, durante as comemorações do Jubileu de Prata da empresa, começaram a operar no Porto Itamarati embarcações do tipo ferry-boat, construídas em aço, com capacidade de carga incomparavelmente maior, e movimentadas por potentes motores turbo-alimentados.

Fim das balsas e o começo da divisão de cargas e encomendas


Somente 22 anos depois, em maio de 1998, com a inauguração da ponte rodoferroviária sobre o Rio Paraná, entre Rubinéia e Aparecida do Taboado, o Porto Itamarati deu por encerrada sua missão de interligar fronteiras agrícolas, grandes centros de consumo e o porto de Santos. Até um mês antes, as balsas ainda transportavam 40.000 veículos por mês. No início de 2002, a Unidade de Negócio de Transporte Hidroviário do Expresso Itamarati foi formalmente desativada.

Em 1980, a primeira linha regular de transferência de cargas e encomendas criada pela Expresso Itamarati atendia o percurso São Paulo-Ribeirão Preto-Rio Preto com um único Mercedes- Benz 608D, carroçaria baú. Affonso Oger recorda que, apenas trinta dias depois, essa estrutura mínima já se revelava pequena demais para a demanda crescente. O pequeno caminhão ganhou o reforço de um Ford 2000, iniciando-se a meteórica multiplicação da frota de veículos leves, médios, pesados e semi-pesados, que se espalhava pela grande região que abrangia todo o interior do Estado de São Paulo (incluindo a Baixada Santista e o Vale do Ribeira) e o Triângulo Mineiro. 

"Com o tempo - conta Affonso Oger - essa vertente do negócio acabou se mostrando bem mais complexa e menos romântica do que a sucessão de êxitos iniciais. O transporte de cargas e encomendas era uma atividade instável, pontuada por um movimento de sobe-desce determinado, ora pelos períodos de retração econômica, ora pela concorrência forte do transporte ferroviário."

Essas nuances acabaram pautando a Itamarati na busca de soluções estabilizadoras. Era preciso encontrar uma alternativa de administração que permitisse o crescimento das atividades e uma melhora na eficiência dos serviços prestados - metas que esbarravam nas limitações de uma administração centralizada para operações espalhadas por uma imensa região geográfica, exigindo decisões rápidas e negociações particularizadas. O caminho escolhido foi a terceirização das agências de cargas, iniciada em 1991 com a transferência dos pontos de coleta e distribuição preferencialmente para os próprios gerentes e funcionários dessas bases. O modelo, muito parecido com o do sistema de franchising, em poucos anos se estendeu à totalidade das agências que a empresa considerava franqueáveis, e que se tornaram ainda mais competitivas e independentes para atuar nas negociações com os tomadores do serviço de cargas e encomendas dentro da região determinada para cada franqueado.

Logística


Em 1996, a Itamarati Cargas implantou o Centro de Distribuição e Controle de estoque de seus clientes. Em seguida, conquistou a operação de transporte, armazenamento e distribuição dos produtos Bauducco para todo o interior de São Paulo, Triângulo Mineiro, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Goiás. Para atender o contrato, criou um novo Centro de Distribuição em São José do Rio Preto, responsável pela movimentação de 11 mil toneladas anuais. A empresa passou a receber novos contratos e expandiu os negócios na área. Para a Itamarati, atuar em entregas domiciliares tornou-se praticamente uma especialidade.

Atualmente, ao lado das operações específicas para grandes clientes, a Unidade de Logística do Expresso Itamarati está dando ênfase à atuação no transporte de carga fracionada. Uma campanha de divulgação junto ao público procura destacar o pioneirismo da empresa no setor e seus diferenciais de agilidade e rapidez em relação à concorrência.

Dias atuais


Affonso Oger nunca deixou de ser uma presença constante na vida da empresa. Ainda hoje, comparece diariamente à sede da companhia, influindo no planejamento estratégico do grupo. Sua história, tal como a da empresa que ele fundou, é uma longa coleção de exemplos de dedicação à vontade de servir. Uma vocação que tem colaborado para manter a companhia com elevado nível de empatia com o público e respondido por uma firme liderança em todos os mercados onde atua.

Fonte: Encarte especial da revista ABRATI nº35 – Dezembro 2003

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